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Factos e Acontecimentos
21 de Fevereiro de 2011
Os Cunhais
Até ao início do último quartel do século XX, era frequente verem-se, nos antigos caminhos municipais da freguesia do Estreito, transportar em corsas, vários tipos de produtos produzidos nas suas zonas mais altas e destinando-se às zonas mais baixas ou à freguesia de Câmara de Lobos, nomeadamente, produtos agrícolas, lenha, varas de pequeno porte, fagulha, etc., o mesmo acontecendo com varas de maior porte, estas transportadas por deslizamento directo sobre o piso dos caminhos. No entanto, este meio de transporte, dada a dificuldade em o manter numa posição central relativamente às bermas e a velocidade que às vezes atingia, levantava alguns problemas como os da danificação dos muros ou paredes de residências situadas à margem dos caminhos e contra os quais roçavam ou embatiam violentamente, danificando-os sem que os proprietários dos mesmos fossem indemnizados pelos estragos sofridos.
Para obviar tal facto, os proprietários desses muros ou prédios, costumavam protegê-los colocando pedras ou cunhais junto a eles, evitando assim o embate directo ou criando um certo distanciamento entre o material transportado e a vedação existente. Consoante a importância da vedação a proteger ou poder económico do seu proprietário, assim também mais ou menos elaborados eram tais protecções, podendo ser de cantaria lavrada ou simplesmente constituídas de pedras, que eram introduzidas pela calçada abaixo, junto dos muros. O seu número também variava da mesma forma e com o maior ou menor risco de danificação, encontrando-se uma maior concentração de cunhais junto das curvas e menor número nas rectas. O acesso fácil aos meios de transporte motorizados e o abandono de certos hábitos de vida acabaram radicalmente com este tipo de transporte e consequentemente com os problemas dele decorrentes, passando tais protecções a não serem mais do que estorvos. Por isso mesmo, a pouco e pouco foram desaparecendo, quer retirados pelos proprietários dos muros que antes protegiam e que a isso foram obrigados ou, então, na sequência de obras de alargamento ou repavimentação. Com a justificação de que muitas destas pedras, cunhais ou escoras junto dos muros roubavam na largura da estrada 60 cm e às vezes mais, prejudicando a estética das mesmas e dificultam a passagem de veículos automóveis, a câmara Municipal de Câmara de Lobos faz aprovar a 13 de Abril de 1939 uma postura que, ao obrigar os proprietários dos prédios protegidos com tais cunhais a os retirar sob pena de multa, aniquila completamente um tipo de protecção que durante, muitos e muitos anos marcou presença em muitos caminhos do concelho de Câmara de Lobos . Fonte: Manuel Pedro Freitas
CEROULAS BRANCAS
A freguesia do Estreito, no inicio dos anos trinta foi alvo das atenções da população madeirense e consequentemente de todos os meios de informação existentes na altura. Motivo: a existência de uma quadrilha denominada de Ceroulas Brancas. Esta era um bando de cerca de 28 indivíduos que foram responsáveis por uma onda de criminalidade e violência.
Os Ceroulas Brancas, na sua maioria com idades compreendidas entre os 20 e os 30 anos, actuavam pela calada da noite e não dando oportunidade a que se deixassem reconhecer ou a que fosse revelada, publicamente, a sua identidade. Desta forma, a população, pela manhã era confrontada com as consequências dos seus actos. Perante o desconhecimento da identidade dos seus autores, estas acções eram envolvidas por um ambiente de grande mistério, o que levava não só a especulações sobre a identidade dos seus responsáveis, como ainda a se atribuir todo o tipo de agressões ou roubos a esta quadrilha, que assim, via enriquecer vertiginosamente o seu palmarés e a sua fama. Desta forma, foi-se criando à volta desta quadrilha um crescente mito de mistério e terror que ultrapassou as barreiras geográficas da freguesia e fazia, não só com que as suas vítimas, no caso de reconhecerem alguns dos seus agressores, não revelassem a sua identidade, como com que a generalidade das pessoas não se atrevesse a andar na rua a partir do anoitecer, com medo de ser surpreendidos numa das suas acções nocturnas e em que apenas ao padre, ao médico, à parteira e quem, em caso de necessidade, os fosse chamar, tinha privilégio de livre trânsito. É aliás através deste mistério em que os Ceroulas Brancas estavam envolvidos que se explica uma certa dualidade de opiniões sobre as motivações e dimensão das suas actividades e que envolviam danificações de terrenos cultivados, arvores de frutos, canteiros e vasos de flores e jardins, apedrejamento de residências e algumas perseguições de pessoas e agressões. Enquanto que para uns, eles eram indivíduos perigosos e capazes das maiores atrocidades, devido aos actos de agressão e assalto que cometiam aos transeuntes, para outros, eles não passavam de indivíduos que juntos e eufóricos com bebida se lembravam de, uma vez por outra, sobretudo quando a alcoolémia era maior, de pregar a sua partida a qualquer pessoa que passasse de noite pelos locais onde estivessem reunidos. São aliás também estas as opiniões que o jornalista do Diário da Madeira encontra, quando após a prisão, em 1932, dos seus elementos vem ao Estreito para colher informações sobre esta quadrilha e que o leva a afirmar não poder chegar a conclusões positivas, visto não encontrar consenso relativamente à natureza e fins dos Ceroulas Brancas. No entanto, independentemente das duas facetas que na realidade pareciam apresentar, a verdade é que os resultados ou consequências práticas da actuação dos Ceroulas Brancas mostra claramente um predomínio da vertente criminosa, ainda que haja a ressalvar o facto de nem todas as façanhas a eles atribuídas terem sido por si protagonizadas. Se as motivações que levaram à constituição e à actuação desta quadrilha eram as de diversão, o que poderá ser plausível carência de meios de lazer, ambiente propício à eclosão deste tipo aberrante de passar o tempo criado pelo convívio na venda, num clima onde o jogo e o alcoolismo se misturavam o certo é que alguns dos seus membros se revelariam em acções isoladas indivíduos agressivos, situação que certamente condicionaria o eclodir de alguns exageros na sua acção enquanto grupo. Relativamente à origem da quadrilha dos Ceroulas Brancas os dados disponíveis não são suficientemente claros. No entanto, parece que o rompimento do noivado, por parte da noiva de um dos elementos que viria posteriormente dar corpo juntamente com outros à quadrilha, terá desencadeado, por parte deste, uma espécie de acção de retaliação, para o que juntamente com alguns amigos, protegidos pelas trevas da noite, foram até à casa da ex-noiva e aí fizeram uma arruaça. Contudo, pelo caminho terão tirado, por razões que se desconhece, ou então para não serem conhecidos, as calças tendo ficado em ceroulas. Daí a denominação dada à quadrilha, que depois se viria a formar, por junção de outros indivíduos e cuja origem se inspiraria nesta primitiva acção, para pregar partidas ou amedrontar as pessoas Ainda que a freguesia do Estreito ficasse com a fama, outras localidades também tiveram grupos similares, nomeadamente Machico. Quem se der ao trabalho de ler a rubrica "Há 50 anos" publicada no Jornal da Madeira de 13 de Janeiro de 1998, verificará que no Caramachão havia sido descoberto um grupo de cerca de 30 indivíduos que atacavam e batiam de noite nos transeuntes e que pela descrição e actividades, não deixa de se assemelhar aos Ceroulas Brancas . Fonte: Manuel Pedro Freitas
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